terça-feira, 22 de setembro de 2009

Entrevista ao Jornal de Esposende


1-Como surgiu esta hipótese do Bloco de Esquerda (BE), apresentar candidatura à autarquia de Esposende?

A ideia já é antiga, mas ganhou mais consistência com o convite que me foi endereçado pelo partido para encabeçar a candidatura à Câmara, assim como pela vontade demonstrada pelos vários militantes do Bloco, amigos e simpatizantes. Inicialmente pensámos arrancar com um projecto mais alargado no tempo, sem compromissos eleitorais imediatos. Contudo, nas diversas reuniões de trabalho que tivemos apercebemo-nos da premência da apresentação de uma candidatura de esquerda credível e consistente para Esposende. Os vastos simpatizantes com as políticas do Bloco existentes no concelho, em desagrado com as opções tomadas pelo município, permitiram-nos concluir que estavam reunidas todas as condições para avançar, de imediato, com uma candidatura.

2-A candidata Sónia Mendes, o que conhece da realidade esposendense?

Enquanto habitante de há alguns anos desta cidade conheço bem o dia-a-dia das gentes e a rotina instalada. Ao longo do tempo fui-me apercebendo das dificuldades e dos problemas latentes. No entanto, quando cheguei a Esposende o que mais me surpreendeu foram as potencialidades ímpares existentes no concelho. Esposende é um concelho pequeno, mas com uma longa costa atlântica. É o único município do distrito de Braga com ligação ao mar. Está servido por algumas importantes vias de comunicação, no eixo Porto-Vigo, mas continua completamente desaproveitado, isto apesar de, em cada recanto, ficarmos maravilhados com as ofertas da natureza. Esposende é um diamante em bruto. Contudo, é um concelho que está de braços cruzados. Não por culpa da falta de iniciativa das suas gentes, mas devido a um poder político comodamente instalado, seguro e confiante na perpetuação do poder. Acima de tudo, subserviente e comprometido com os interesses económicos instituídos.

Conhecemos as dificuldades que os pescadores enfrentam há já longos anos, ainda por resolver. A título de exemplo, temos a construção da barra, projecto que continua arrumado na gaveta. Deparamo-nos a cada passo com as dificuldades de uma população que, todos os dias, enfrenta o aumento do desemprego e as dificuldades em arranjar um novo posto de trabalho. Os problemas enfrentados pela juventude em encontrar o primeiro emprego, apesar de terem apostado na sua qualificação e educação, também não serão esquecidos.
Constatamos ainda a existência de muito trabalho precário e a falta de alternativas, a deficiente aposta na formação profissional, no implemento de políticas eficazes de combate ao desemprego. O apoio aos idosos é inexistente. Verificamos a organização de algumas excursões ou festas-convívio em quintas apropriadas para o efeito, eficaz na conquista de votos, mas longe das necessidades reais dos cidadãos. Temos de começar a pensar Esposende de uma outra forma, de modo a rentabilizar e explorar todas as suas potencialidades. Esposende tem que deixar de ser visto como filão para alguns e passar a ser uma oportunidade para todos.

3-Dentro do programa do BE, o que destaca como objectivos prioritários do Bloco de Esquerda para o concelho de Esposende?

Acima de tudo, há hábitos instalados que têm de ser quebrados. É hora de pensar numa alternativa. Mas não numa alternativa qualquer. Tem de ser virada para a população, ouvindo-a, percebendo-a, estudando as suas necessidades prementes, bem como os seus anseios.
Por exemplo, na questão do urbanismo, há situações que não queremos que aconteçam novamente, caso dos licenciamentos de obras como as que existem nas Marinhas, com a construção de casas em cima das dunas ou a edificação de prédios que depois as mais altas instâncias judiciais mandam demolir. Decisões destas, obviamente, que não foram tomadas a pensar nos esposendenses... certamente sobrepuseram-se outro tipo de interesses. Por isso, não se pode defender a política do betão, em que o que prevalece é a construção desenfreada sem que, para isso, exista um estudo de construções, tendo em conta o impacto ambiental, protecção da orla costeira, aliado à qualidade de vida da população.
A história local está ligada ao mar, bem como à agricultura e indústria, sendo essas as nossas prioridades. Queremos criar condições para que quem é pescador possa continuar a sê-lo, mas também permitir ao agricultor continuar a ter condições para desenvolver a sua subsistência. É preciso criar condições para que possamos viver num concelho de turismo, desporto e lazer. Por exemplo, no desporto, vemos todos os fins-de-semana os esposendenses, mas também pessoas de outros concelhos, a jogar à bola em pseudo-jardins, a correr na estrada, a andar de bicicleta, a fazer desportos náuticos, sem que, contudo, tenham efectivas condições para a realização das suas actividades. Essas pessoas vêm para Esposende porque, precisamente, este concelho é uma pérola. Mas aqui só encontram condições naturais, nada mais. O que é que a cidade lhes oferece em troca?
Nós queremos aproveitar toda a foz do Cávado não apenas até às piscinas, mas em toda a sua extensão concelhia, para desenvolver estruturas de apoio à prática desportiva e ao lazer.
Os arautos da desgraça dizem sempre que Esposende tem um problema irresolúvel que é o vento. Efectivamente terá se continuarmos a olhar para a cidade numa perspectiva estática, se não criarmos alternativas e se, sobretudo, não tirarmos partido das suas condições naturais. A extensão da zona ribeirinha criará condições ímpares e reais alternativas. Favorecerá o turismo desportivo. Permitirá a organização de eventos internacionais.
Por outro lado, é necessária uma outra política cultural que, certamente, não se pode cingir à organização de feiras ou eventos musicais, em locais inapropriados e improvisados, que têm mais de propaganda eleitoral do que promoção da cidade ou do concelho.

4-O que será um bom resultado para o BE, nas próximas eleições autárquicas no concelho de Esposende?

Um bom resultado para o BE será, sem sombra de dúvida, saber que conquistámos a confiança dos esposendenses, por isso cada voto é uma vitória. Não sonhamos com números, nem estabelecemos metas. Queremos marcar presença nestas eleições autárquicas e saber que temos o apoio da população. Para nós, o mais importante é credibilizar a política no concelho, merecer o voto dos esposendenses. O melhor resultado é sentir que tudo fizemos para chegar perto da realidade local.

5-Para quando está prevista uma sede concelhia do BE em Esposende?

Esse é um assunto ainda em estudo. Não é uma prioridade. O BE em Esposende ainda é muito recente, a nossa preocupação actual são as eleições autárquicas e também as legislativas. É claro que um espaço físico, onde os militantes e simpatizantes se possam encontrar, é importante, pelo que existe a intenção de ter uma sede concelhia brevemente. Só não podemos garantir para quando, mas provavelmente logo a seguir a este ciclo eleitoral.

6-Esta candidatura nas “autárquicas”surge após o bom resultado do BE alcançado no concelho durante as “eleições europeias”?


Todos os resultados eleitorais, bons ou maus, são sempre importantes. O resultado conquistado pelo Bloco nas “eleições europeias” foi um bom indicador e também motivador para o partido e para todos os elementos que me acompanham nesta candidatura, mas não nos criou ilusões. Sabemos que são realidades diferentes. Mostrou-nos, essencialmente, que a população sente a necessidade de mudança.

7-O Bloco de Esquerda aposta nas candidaturas para a autarquia e assembleia municipal, mas fica de fora nas candidaturas às juntas de freguesia, com explica esta realidade?

O Bloco de Esquerda lança agora as suas primeiras raízes em Esposende. Tudo tem de ser feito de forma calma, ponderada e sustentada. O Bloco não é um “bluff”, por isso para já avançamos com a candidatura à Câmara e Assembleia Municipal. Certamente que, no futuro, iremos equacionar muito mais alternativas, mas para já queremos conquistar um voto de confiança da população de Esposende.

8-Como encara a campanha eleitoral num concelho que tem sido liderado há vários anos pelo PSD?

Trata-se de uma luta difícil. São os interesses instituídos, são os hábitos criados, mas são essas dificuldades que nos motivam. Certamente que as dificuldades e a luta que esta campanha nos vai exigir, conseguirão tornar o sabor da conquista dos votos dos esposendenses muito mais saborosa. Cada voto alcançado nas eleições que se aproximam será uma vitória para esta candidatura, pois é sinal que merecemos a confiança do eleitor e que as pessoas querem mudar o poder instalado.
A nossa campanha não passa por concertos, por convívios em quintas ou por excursões, para distrair as atenções das pessoas dos verdadeiros problemas de Esposende. Mas os votos não se compram, as pessoas não andam distraídas e fartam-se deste tipo de folclore.
Nós queremos, acima de tudo, estar próximos da população, saber ouvir as dificuldades, falar aos esposendenses, ver o que este concelho precisa, o que exige muito empenho. É preciso mudança, novas propostas e ideias renovadas para conseguir ultrapassar os problemas existentes.

9-Natural da Covilhã, mas a residir em Esposende, este é o maior desafio da sua vida, ao ser candidata a um município?

Sem dúvida que se trata de um grande desafio. Considero esta causa muito nobre, por isso aceitei ser candidata pelo Bloco. Esposende foi o sítio que eu escolhi para residir e também para trabalhar, pois há já longos anos que esta cidade me seduziu e cativou. Porém, rapidamente me apercebi de muitas necessidades e falhas que precisavam de intervenção urgente. No entanto, o tempo foi passando e tudo continua na mesma. Não gosto da apatia e da rotina, principalmente quando está em causa o bem-estar dos outros. Poder fazer algo por Esposende é, sem dúvida, um desafio muito ambicioso. Sem promessas, com a humildade que me caracteriza, vou dedicar muito do meu tempo a esta causa, com todo o empenho que julgo merecer. Sou natural da Covilhã, mas talvez por isso, habituada às dificuldades do interior, revolto-me quando vejo o nosso concelho, com condições ímpares, completamente estagnado e desaproveitado. Escolhi Esposende como local ideal para desenvolver a minha vida pessoal e profissional, mas não me resigno a este estado de coisas. Estou preparada para as dificuldades, passei a minha infância e adolescência nas Beiras, onde nem sempre é fácil viver, devido à falta de investimento e até às próprias condições climatéricas. Posso enfrentar o clima mais ameno do Litoral, com estes ventos que se esperam de mudança no concelho. Lanço um desafio a todos os esposendenses: vamos “Juntar forças por Esposende”! Podem acreditar numa esquerda de confiança, disposta a defender os interesses da população e não entregue a interesses individuais ou económicos. Com o Bloco, Esposende não será só de alguns, mas sim de todos!!!

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